segunda-feira, 1 de novembro de 2010

EU RECOMENDO // Do que a vida tem de bom


Por Anabella Araújo (*)
Convidada especial do Gastronomix

“O nome da cidade vem de um de seus belos cenários naturais, incrustado bem no centro e sua maior referência geográfica: o morro Mont-Royal. Por ser Montreal uma ilha, avista-se do alto deste morro boa parte das margens do Rio São Lourenço. Os clichês aplicam-se todos: cidade linda, com gente mais linda ainda de todos os cantos e um charme extra, por conta da língua oficial, o francês. Com ar europeu, a cidade é um convite à contemplação de suas ruas charmosas com casario do estilo da época da colonização (1600).

Ainda bem que naquele sábado, dia 11.09, eu havia enfrentado a íngreme subida do dito Mont-Royal. Porque o jantar daquela noite viria a ser o mais espetacular de toda a minha vida, com incontáveis e memoráveis calorias.

Como muitos, fui criada essencialmente à base da dieta materna. Não estou reclamando, apenas constatando. Mineira e cozinheira de mão cheia, ela faz como ninguém uma variedade absurda de pratos e quitutes, como pão de queijo, galinhada, milho verde na manteiga, pequi, e o seu “molho de verduras” (um refogado bem temperado com vagem manteiga, quiabo e abóbora cabutiá).

Mas a vida foi acontecendo e tive a sorte de ter sido apresentada às coisas boas da vida, dentre estas, a gastronomia e os vinhos, pelos amigos, namorados e maridos, aos quais aproveito para deixar aqui meu sincero e intenso MUITO OBRIGADA! Isto, somado a uma curiosidade natural que encontra poucas barreiras (odeio alcaparra), fez de mim uma comensal deslumbrada em qualquer dos sentidos. Gosto de comer comida boa. Alta ou baixa gastronomia. Pronto, falei.

Voltando ao Canadá. Uma amiga querida me deu dicas sobre Montreal e pontuou que ocorresse o que fosse, eu não deixasse de visitar o Toqué!, do chef Normand Laprise. Na hora previamente reservada, cheguei, sozinha, ao número 900 da Praça Jean-Paul-Riopelle. O pé-direito altíssimo, com frente envidraçada voltada para a linda praça dava o tom elegante da noite. O maître d’hôtel, o gentil Fabien Novert, me conduziu à mesa, bem ao lado da adega.

Só esta mereceria uma nota completa. No bar, garrafas suspensas por armações metálicas que vinham do teto, flutuavam, promissoras. A parte da adega projetada dentro do salão, em forma de caixa de vidro, deixava entrever uma escada que levava ao subsolo, a adega propriamente dita, com paredes abarrotadas de certas preciosidades, verdadeiros tesouros.

O menu de três folhas me pareceu um estrondoso desafio. Como escolher, se tudo parecia tão irresistível? Decidi entregar esta tarefa ao chef e optei pelo menu degustação com foie gras, acompanhado de vinhos da lista Prestigious.

O que aconteceu em seguida foi uma sucessão de supremas delícias lindamente apresentadas por serviço impecável, cada qual harmonizada com seu ma-ra-vi-lho-so vinho. Fiz algumas notas e tirei fotos com celular para auxiliar a memória e depois, tirei todas as dúvidas na cozinha.

Na minha leiga descrição a partir do que ouvi em inglês, provei:
(i) creme espumoso quente de milho com cristais de cebola;
(ii) ouriço do mar, pepino, cebolinha, chalota, gengibre e gelo de soja e milho
;

(iii) lagosta fresca (depois, visitando a cozinha, eu vi as lagostas vivinhas da silva!) servida com salada de alface, tomatinhos e mini pepino, com manteiga de lagosta;
(iv) foie gras servido sob pêra pochê, com geleia de estragão, uvinhas e uma porção de sal Maldon para espalhar;
(v) carpaccio de rib eye, molho de missô, soja e wasabi, tomatinhos, cebola, cebolinha e cogumelos;

(vi) peito de pato com caviar augerbine;
(vii) queijo 1068, tomilho, tomate, croûtons e azeite de Origon;
(viii) e finalmente, a sobremesa: salada de frutas, merengue de limão, ganache marfim, calda de morango e sorvete de framboesa. Para mim, um acontecimento.

Estava ainda embriagada quase literal e sentimentalmente, quando me convidaram para conhecer a cozinha e a adega. Tudo, absolutamente tudo, tão lindo quanto o salão. Adianto que não foi nada barato, mas valeu cada centavo canadense. Por que a primeira degustação em restaurante mega blaster estrelado a gente nunca esquece?

Na saída, o maître Fabien, talvez percebendo meus olhinhos vidrados (a louca), indicou-me outro restaurante e, na verdade, fez reserva para o dia seguinte, para jantar: Au Pied de Cochon. Não cabe aqui, porque o Rodrigo fofo me pediu um texto pequeno e isto aqui virou um tratado-sobre-um-jantar-de-uma-comensal-neófita.

Basta dizer que lá comi o melhor porco ever (eu tenho experiência no quesito suínos, lembram da mão boa da mãe mineira? E ainda tem a Anália – a melhor cozinheira que conheço, verdadeira divindade das panelas da casa encantada do João Paulo). Mas, estas são outras estórias que terei a imensa satisfação de dividir com o Gastronomix que eu adooooro. Acho digno!”

Toqué!
Prala Jean-Paul-Riopelle, n. 900
Montreal - Canadá
Telefone: 514 499 2084
Site: http://www.restaurant-toque.com/

(*) Anabella Araújo é advogada e apaixonada por comida, vinho e tudo mais das maravilhas do mundo.

Um comentário:

chopp disse...

Dica registradíssima, obrigada!