quarta-feira, 27 de outubro de 2010

AO PÉ DO OUVIDO// A propósito de Djavan e de Ária

Por Rosualdo Rodrigues

Djavan é tão bom cantor quanto compositor. E Ária, o novo álbum, em que ele canta somente músicas de outros, é um bom disco de intérprete. Tudo muito bem feito, bem produzido... Mas há, ao mesmo tempo, uma modéstia que se sobrepõe às qualidades. O disco é despretensioso, simples, fácil de ouvir. E isso não contaria tanto se não tivesse sido feito por quem o fez. Quer dizer, é pouco vindo de quem vem.

Nos acostumamos a ouvir as canções de Djavan cantadas por tudo quanto é músico do tipo voz-e-violão pelos barzinhos da vida. E na hora em o que o próprio resolveu mostrar seu lado de crooner -- com um repertório eclético, que passa pela tradicional MPB, pelo samba e os boleros --, soa apenas como mais um deles, só que mais evoluído, claro. Com mais cacife, digamos.

Não há problema em compositores que gravam discos de intérprete — Caetano Veloso e Chico Buarque já o fizeram. Mas espera-se, nesses casos, trabalhos com qualquer coisa de marcante, o que não é caso de Ária — que, apesar de tudo, não merece ser ignorado, seja pelo respeito que Djavan e seu violão sempre merecem, pelo bom gosto do repertório ou pela releitura de Luz e mistério (Beto Guedes/Caetano Veloso), a mais, digamos, atrevida do disco.

E já que estamos falando de Djavan e de Ária, vale lembrar um disco que não é lançamento recente e não repercutiu tanto quando poderia. Em O amor é azul, a soprano Nadja Daltro interpreta canções do compositor alagoano com empostação lírica. O disco pode soar estranho em um primeiro momento, mas vai revelando sua beleza à medida em que vai avançando em suas 16 faixas.

Algumas músicas cabem mais confortavelmente nessa junção de lírico e popular, outras nem tanto. Mas, no geral, O amor é azul é um disco no mínimo interessante, com momentos emocionantes -- caso de O amor é tudo, Álibi, Meu bem querer e Oceano. Com seu canto preciso, Nadja Daltro mostra a obra de Djavan de uma perspectiva diferente e acaba revelando novas possibilidades e ângulos tão inusitados quanto bonitos de canções que pensávamos conhecer de cor e salteado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Fiquei curiosa para ouvir essas versões líricas de Djavan. Deve ser pelo menos curioso.
Delma

Claudio disse...

Delma
Para ouvir trechos do CD, se comunicar com a cantora ou adquirir o CD, entre no site www.nadjadaltro.mus.br.
Eu produzi este CD, O AMOR É AZUL, e foi uma inesperada e grata surpresa tomar conhecimento desta crítica, dosada com sensibilidade e realismo.
Claudio