quarta-feira, 29 de setembro de 2010

AO PÉ DO OUVIDO // Água para dias quentes e secos

Por Rosualdo Rodrigues

Paula Morelenbaum começou como integrante do grupo vocal Céu da Boca, depois passou anos cantando na banda de Tom Jobim. Quando seguiu carreira solo, demarcou seu terreno na bossa nova e em especial na música de Jobim. Mas o curioso é que mesmo dando voltas em torno desse terreno, ela consegue não se repetir num gênero que parece muito voltado ao passado.

Primeiro porque "carreira solo" não é bem o caso de Paula, que está sempre envolvida em projetos em conjunto com músicos interessantes. Segundo, porque esses projetos partem sempre de ideias criativas, que fazem com que ela se reinvente e reinvente a própria bossa. Foi assim, por exemplo, com Telecoteco -- Um sambinha cheio de bossa (veja o clipe da música título), de 2008, em que Paula foi atrás de músicas que antecediam a bossa nova mas já traziam em si o "espírito da coisa". O disco entrou em várias listas de melhores daquele ano. Merecidamente.

Agora, ela se juntou a João Donato e fez Água, em que canta o repertório clássico do próprio Donato, acompanhada por ele mesmo ao piano, com arranjos de músicos de diferentes gerações, de Jacques Morelenbaum a Kassin e Donatinho (filho de João). A afinação e o elegante gingado de Paula caem como uma luva nas músicas de Donato, que cria no piano um balanço pessoal e inconfundível. A união dessas peculiaridades de um e outro gerou um disco tão delicioso quanto Telecoteco.

Daí que, em Água, músicas que já conhecemos de gravações memoráveis na voz de outras cantoras, como Flor de maracujá e A rã (com Gal Costa em seus primórdios) ou Café com pão (com Nana Caymmi) ou A paz (com Zizi Possi), parecem novas, frescas... Aliás, enquanto a chuva não vem, Água é altamente recomendável para refrescar a cuca nestes dias quentes e secos.

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