quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

AO PÉ DO OUVIDO // E todo mundo grita êêêêêê

Por Rosualdo Rodrigues

O frevo Vassourinhas é, sem dúvida, um fenômeno. Composto há mais de 100 anos (a data presumível é 6 de janeiro de 1889), ele consegue até hoje ter o efeito de uma bomba de alegria quando lançado sobre uma multidão. Seja onde for, aos primeiros acordes, todo mundo grita êêêêê e até quem está quase que nas últimas ganha forças para acompanhar o grito e dar mais uns passinhos.

Lembro que, nos bailes carnavalescos de clube de minha infância e adolescência, o "conjunto" guardava Vassourinhas como trunfo, para soltar naquelas horas em que a galera já começava a dar voltas no salão meio que ligada no automático. O frevo funcionava como uma injeção de ânimo. De ponto quase morto, o baile passava pra primeira marcha e ia à quinta. Todo mundo gritava êêêêê e o carrossel humano no salão acelerava o andamento.

Um salto no tempo. Carnaval de 2010 em Brasília. A orquestra que acompanha o Galinho de Brasília (bloco daqui da capital que homenageia o Galo da Madrugada de Recife) toca um repertório de frevos de cortar coração de pernambucanos saudosos. “Volteeeei Recifeeee....”, “Olindaaaa, quero cantaaaar...” Mas aí, de repente, tome Vassourinhas, e todo mundo grita êêêêê e se agita mais ainda. Não por acaso, eles sempre tocam a música quando o bloco passa por baixo da tesourinha (viaduto, para quem não é de Brasília) do Eixo Rodoviário. Com o som amplificado pela acústica do lugar, o pessoal vai à loucura.

Não duvido que a cena tenha se repetido nas ruas de Recife, Olinda, Rio de Janeiro ou de Salvador (este ano comemorando os 60 anos do trio elétrico, que deve muito ao frevo pernambucano e, especialmente, a Vassourinhas, claro). Acho que nem os autores, Matias da Rocha e Joana Batista Ramos, tinham noção do poder da música que compuseram para o bloco pernambucano Vassourinhas, ou o Clube Carnavalesco Misto Vassourinhas. Há mais de um século. Isso é o que chamo de clássico.

Um comentário:

Marina disse...

Primeira vez que fui no pacotão nem me animei. Mas quando deceu na tesourinha, fiquei louca. Você está certíssimo. Magias da animação coletiva