Por Rosualdo Rodrigues
O disco novo de Zélia Duncan – muito bom, por sinal – tem duas versões de músicas de Alex Beaupain, da trilha do filme As Canções de Amor, de Christophe Honoré. Acho corajoso, porque há certa má vontade da crítica e do público mais... crítico, digamos, com a tradução para o português de músicas estrangeiras. Na verdade, parece que uma versão é tão mais tolerável quanto mais desconhecido for o original. Afinal, é duro, por exemplo, ouvir Ana Carolina e Seu Jorge cantar “eu não posso parar te olhar” quando já não se agüenta mais “I can’t take my eyes off of you” na voz de Damien Rice.
Nesse aspecto, Zélia teve bom senso (as canções só foram ouvidas no filme, que teve distribuição restrita no Brasil). Independentemente disso, Boas razões (De Bonnes Raisons) e Pelo sabor do gesto (As-tu Dèjá Aimé?) são duas das melhores músicas do disco. E também boas versões, porque têm um trabalho de recriação, trazem a marca de Zélia Duncan (que já tinha feito o mesmo com Cathedral Song, de Tanita Tikaran).
Desde a era do rádio já se ouviam versões aqui no Brasil. Dalva de Oliveira, por exemplo, cantou Hino ao Amor, versão de L’Hymne a l’Amour, de Piaf. Mas a partir dos anos 1960, artistas populares passaram a abusar do recurso. Cely Campello pegou o embalo de Estúpido Cupido (Stupid Cupid, de Neil Sedaka) e fez outras tantas. Perla passou para o português tudo quanto era música do Abba (Chiquitita, Fernando…) e por aí vai, até chegarmos a “o que é imortal, não morre no final”, de Sandy & Júnior (Imortal, de Celine Dion). Deve ter nascido aí o preconceito.
Agora, versões podem ser mais divertidas quando não se levam a sério. Como Leo Jaime fez com Sunny, do Johnny Rivers (que virou Sônia), e Tell me once again, do Litght Reflections (que virou Telma Eu não Sou Gay). Ou o disco de Seu Jorge com versões de David Bowie, que é muito lúdico. Ele e o violão “brincando” de traduzir Bowie. Ou a involuntariamente genial Acho que Sou Louca, como Simony traduziu I Should Be So Lucky, de Kyle Minogue.
Mas as melhores são aquelas em que o autor ou o intérprete da versão impõe sua personalidade criativa. Nesse caso, é exemplar, Negro Amor, versão de Caetano Veloso para It’s All Over Baby Blue, de Bob Dylan, aperfeiçoada na voz de Gal Costa. No mesmo disco, Caras e Bocas, ela canta outras duas versões igualmente fantásticas, Solitude e Louca me Chamam, ambas de Augusto de Campos sobre Solitude e Crazy He Calls Me, as duas do repertório de Billie Holliday.
Dez versões que se encaixam neste último caso:
1 ) Negro amor (It’s All Over Baby Blue, de Bob Dylan), com Gal Costa
2 ) Vida em marte (Life From Mars, de David Bowie), com Seu Jorge
3 ) Sophisticated Lady (Sophisticated Lady, de Duke Ellington e Irving Mills), com Elza Soares e Caetano Veloso
4 ) Fascinação (Fascination, de F.D. Marchetti e Maurice de Feraudy), com Elis Regina
5 ) Não chore mais (No Woman no Cry, de Bob Marley), com Gilberto Gil
6 ) Toda vez que eu digo adeus (Everytime We Say Goodbye, de Cole Porter, com Cássia Eller)
7 ) Façamos (Vamos amar) (Let’s do it… Let’ Fall in Love, de Cole Porter), com Chico Buarque e Elza Soares
8 ) Boas razões (De Bonnes Raisons, de Alex Beaupain), com Zélia Duncan
9 ) Tudo tão quieto (It’ oh So Quiet, de Bjork), com Elza Soares
10 ) Minha História (Gesumbambino, de Dalla e Pallotino), com Chico Buarque
quarta-feira, 15 de julho de 2009
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5 comentários:
Rosualdo, adoro seus comentarios, sempre aguardo as quartas para le, Parabens!
Rosualdo,
você está sacaneando com esses seus posts! Vou te contar! Você citou a maioria das versões de que gosto. Tive que rebolar pra fazer uma listinha original. E pra isso até apelei para sucesso recente do You Tube. Segue abaixo o resultado:
1) Lá Vem o Sol (Here Comes the Sun, dos Beatles), com Lulu Santos;
2) Passageiro (The Passenger, de Iggy Pop), com Capital Inicial;
3) Tanto (I Want You, de Bob Dylan), com Skank;
4) Astronauta de Mármore (Starman, de David Bowie), com Nenhum de Nós;
5) Querem Meu Sangue (The Harder They Come, Jimmy Cliff), com Titãs;
6) Hey Joe (Hey Joe, de Jimmy Hendrix), com O Rappa;
7) Johnny B. Goode (Johnny B. Goode, de Chuck Berry), com Cidade Negra;
8) O Bode e a Cabra (I Wanna Hold Your Hand, dos Beatles), com Rita Lee;
9) Pé na Tábua (Ordinary Pain, de Stevie Wonder), com Marina Lima;
10) No Meu Cross Fox (A Thousand Miles, de Wanessa Carlton), com Stephanie.
Apesar de sacanas, seus posts estão ótimos!
Abraços,
kkkkk. adorei a inclusão de cross fox em sua lista. as versões da marina sã sempre muuuito boas. e i wanna hold you hand feito baião é uma delícia.
Confesso que não curto muito esses fenômenos de internet, tipo Stephanie ou Malu Magalhães. Mas um dia me permiti ouvir na integra "No meu Cross Fox" e a-do-rei o acordeão do refrão.
Geisa, puxa vida...
Vc entende de música, hein?
O nosso crítico está com medo de perder o lugar para vc (risos).
Valeu pelos acessos e comentários.
bjos
Rodrigo Caetano
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