quarta-feira, 4 de março de 2009

AO PÉ DO OUVIDO // No som de um trompete alemão


Por Rosualdo Rodrigues
Não lembro de ter lido nada (além de matéria que eu mesmo escrevi no Correio Braziliense) sobre Rio, disco que o trompetista alemão Till Brönner (foto) lançou no fim de 2008. Talvez apenas tenha passado despercebido, mas o fato é que o disco merece atenção.
Primeiro, porque é ótimo. Segundo porque é uma produção curiosa: gravada no Brasil com participação de músicos daqui e de fora. E não é gente pequena. Nos vocais, tem Annie Lennox cantando com Milton Nascimento, Vanessa da Mata, Kut Elling, Aimee Mann, Luciana Souza (brasileira que tem conseguido considerável espaço na cena jazzística norte-americana), Melody Gardot, Sérgio Mendes e o próprio Till Brönner, cantando em um português quase perfeito em Só danço samba, Café com pão e Bonita. No instrumental, o violonista Marco Pereira, os percussionistas Paulinho da Costa e Marcos Suzano, o guitarrista Nelson Faria…
A ideia de Brönner era entrar na onda das comemorações aos 50 anos de bossa nova, mas, apesar do repertório ser todo de música brasileira, não cai no óbvio. Tem standards da bossa — Once I loved (Amor em paz), numa bela interpretação de Aimme Mann; Ela é carioca, com Sérgio Mendes; uma versão instrumental de Lígia e as já citadas Só danço samba e Bonita.

Há composições de Djavan (Sim ou não, com Kurt Elling); de Chico Buarque (O que será, cantada por Vanessa da Mata com levada meio bossa) e Arnaldo Antunes (a versão em inglês de Alta noite, por Melody Gardot, é surpreendentemente linda). A única faixa mais duvidosa do disco é Mistérios (Mysteries) cantada por Milton Nascimento e Annie Lennox, que faz muito esforço para uma canção tão delicada.
O bacana é que Till Brönner, apesar de ser o "dono" do disco, dá bastante espaço para os outros músicos e o trompete não está em todo canto só para marcar presença. O resultado é um disco desses que dá vontade de passar o resto da vida ouvindo.
Dois pontos:
1 ) "A Daniela (Mercury) surge como uma grande explosão. Ela é a Madonna brasileira. Faz música pop, mas possui outra dimensão incrível que Madonna não tem: um grande conhecimento sobre folclore, sobre os grupos étnicos brasileiros e sobre a história da Bahia". Quem disse foi Camille Paglia. Eu sei do que ela está falando.
2 ) Só quem tem mais de 40 é que deve lembrar de Maria Alcina cantando Fio Maravilha no Programa Flávio Cavalcante. Mas até quem tem 15 e um pouco de bom gosto vai apreciar Maria Alcina Confete e Serpentina, o disco que ela acaba de lançar. Moderno, eletrônico, carnavalesco, pop, divertido.

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