Colunista de Variedades do Gastronomix
Muitas receitas têm origem desconhecida ou cercada de histórias que
pecam pela falta de precisão e pelo excesso de imaginação. A da maniçoba é
particularmente curiosa e guarda pelo menos um grande mistério.
Como e quem chegou à conclusão de que era preciso cozinhar a folha da
mandioca (maniva) por sete dias para tirar seu efeito venenoso
— pela presença de uma substância chamada acido cianídrico? Quantos
terão morrido até tal descoberta?
É quase uma feijoada — no aspecto, inclusive –, mas sem feijão, e é
típica da culinária do Norte do Brasil. Por isso mesmo costuma ser pensada como
um alimento de origem indígena, mas aí é que está outro detalhe curioso dessa
história.
A maniçoca é, na verdade, uma invenção de origem africana. Ou seja, técnicas africanas aplicadas a ingredientes amazônicos por escravos africanos trazidos para trabalhar no Norte.
Inclusive, em vários países da África encontram-se receitas parecidas,
a exemplo da matapa, de Moçambique. Nesse prato, as folhas batidas no pilão são
misturadas a amendoim, leite de coco, camarão ou caranguejo. E, claro, cozidas
dias a fio.
Matapa, receita de Moçambique similar à maniçoba
Quer dizer, a não ser que lá, como aqui, a massa da maniva já seja
encontrada no mercado em versão pré-cozida. Isso mesmo. A maniva prontinha para
ser usada hoje em dia está à venda até em sites como OLX e Mercado Livre. Sinal
dos tempos.
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