quarta-feira, 25 de março de 2015

ME BATA UM ABACATE // Guerra das latinhas

Sérgio Maggio
Cronista do Gastronomix

Quando Tildeclaisson e Esternilson cruzaram o olhar, o complexo universo dos “seres humanos de nomes combinados” se desfez diante de um amor à primeira vista. Da vida, os dois carregavam essa estranha obsessão que alguns pais possuem em criar alcunhas inusitadas para os seus rebentos. Houve um tempo em que os atuais pombinhos viviam como aves acuadas pelos cantos. Motivo: portar, no RG, essa quilometragem de letras. Pense num bullyng pesado? Agora, pronuncie Tildeclaisson e Esternilson. Céus, por quê?

Tudo mudou, no entanto, quando os dois trocaram aquele primeiro beijo. Ali, foram invadidos por uma leveza tão grande que, quando um se apresentou ao outro, os nomes soaram tão minimalistas e poéticos.

- Ah, Esternilson, “o amor tem feitos coisas/ que até mesmo deus duvida/ já curou desenganados/ já fechou tantas feridas”, confessa Tildeclaisson, que tem a mania de usar frases de canções para se expressar.

Milagres do amor. Assim, um paraíso se abriu na vida dessas sofridas criaturas. A improvável reconciliação com os pais foi o capítulo mais feliz. Juntos, eles decidiram pedir perdão a esses alquimistas de nomes. Mais dramática, ela resolveu fazer um jantar para dona Tilde e seu Claisson e, no momento crucial do perdão, levantou-se e disse olhando para o pai.

- Oh, metade de mim, oh metade exilada de mim!

Depois, desvio o foco para a mãe e seguiu: - Oh, metade de mim, oh metade amputada de mim!
Juntos, os três entraram em coro:- Oh, metade de mim, oh metade adorada de mim!

A coisa não foi diferente na casa de Esternilson. Lá, ele, romântico que só, levou um quadro de presente. Os pais abriram e encontram a certidão de nascimento emoldurada num lindo quadro de moldura dourada.
- Entrego a vocês, a sua maior obra-prima, o meu nome!

Todos aplaudiram, choraram e se abraçaram. Tildeclaisson discursou:
- Quando eu estou aqui/  Eu vivo esse momento lindo/ Olhando pra você/ E as mesmas emoções sentindo...

UMA DÉCADA E MEIA DEPOIS...
Tildeclaisson e Esternilson tiveram três filhinhos: uma menina, Tildenilson, e dois rapazes, Esterclaisson e Claissonilson.  Atualmente, as coisas não estão muito harmônicas entre eles. Em idade adolescente, todos estão em crise, logicamente, por conta dos nomes. O problema, no entanto, é mais grave do que na época do país. Os jovens, como quaisquer jovens inseridos numa sociedade consumista, querem por que querem encontrar os seus nomes nas latinhas de Coca-Cola. É lógico que a missão é impossível.

- Todos os meus amigos têm os nomes na latinha. Até meu colega Mucilon, tem seu nome contemplado numa lata de leite, protestou Esterclaisson.

- Escrevi para a Coca-cola pedindo a inclusão dos nossos nomes e eles responderam que, no momento, é impossível. Não há como grafar. Simplesmente não cabe a quantidade de letras, lamentou Claissonilson.

- Nem o site da Coca-Cola permite criar a garrafa virtual, apontou Esterclaisson.
- Filhos, quem sabe há estudos para uma embalagem estilo latão de 1 litro que pode contemplar vossos nomes...
- Isso, sejam otimistas, ouçam seu pai e pense que “desesperar jamais, aprendemos muitos nesses anos, afinal de contas não tem cabimento, entregar o jogo no primeiro tempo, contemplou a mãe.

Calada durante toda a reunião, a filha interrompeu:
- Ah, gente, não... Eu sou tão feliz como Tildenilson. Sou única, exclusiva e singular nesse mundão dominados por Julias, Carols e Anitas. Estou namorando o Bucério e queremos ter uns cinco filhinhos. Já imaginaram os nomes?

Todos – Bucetilde, não! Ah, me bata um abacate!

O ABACATE DA SEMANA VAI PARA...
O abacate desta coluna vai para todos aqueles que transformaram a poética e política cena das atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, na novela Babilônia, num ato indigno e de ataque ao velho modelo da família brasileira.

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