Colunista de Café do Gastronomix
"Patrão, deixa um cafezinho aí!". Você já ouviu essa
expressão do flanelinha, do entregador de pizza mais ousado ou - pior, muito
pior - de algum funcionário público corrupto.
A palavra, assim mesmo, no diminutivo, sempre foi e é, sinônimo de
esmola, gorjeta, gratificação por algum pequeno serviço e - pior muito pior -
suborno.
Mas afinal, nesse universo tão amplo de possibilidades entre o café
pequeno e a grande extorsão, quanto vale o show?
Com a inflação batendo (ou arrombando?) às portas e ameaçando se
abancar nas mesas da cafeteria da esquina, a dose da bebida pode ser um bom
termômetro para o custo de vida de uma cidade ou país. Funciona igual Big Mac.
Só que é melhor.
Pois bem. Sou do tempo em que o café espresso regulava com a gasolina.
Sim, 30 ml do meu precioso curto batia com o preço do litro do combustível no
posto ao lado. E, mais velho ainda, sou do tempo em que ambos custavam menos de
R$ 1.
Tínhamos o hábito de almoçar em um shopping de Brasília, quando um dos
amigos resolveu fazer greve de cafeína, porque o valor do espresso passou de R$
1,00 para R$ 1,20. Nosso caro colega foi, sem saber, o precursor da expressão:
"não são só os 20 centavos! É tudo que isso representa".
A verdade é que, sim, dá saudade de quando uma nota de um real era o
suficiente para o prazer pós-almoço. Hoje, que pena, nenhum dos dois existe.
Nem a nota, nem o café a esse preço.
Numa média geral, digamos que é quase impossível ir a uma cafeteria com
menos de R$ 4,00. Isso, em Brasília... porque em São Paulo e no Rio, a nota de
cinco costuma ser o desembolso mínimo. Incluindo os 10%, é bom ter umas
moedinhas a mais na carteira.
Mas o budismo diz que há um lado bom em tudo. Ao menos, do tempo do um
real para cá, o mercado de cafés especiais se sofisticou bastante e, claro,
sofisticação custa. Imagina em São Paulo, onde até a água virou luxo... só não
precisava ficar mais caro até do que a gasolina que, convenhamos, não é barata.
Na dúvida, na próxima vez que o flanelinha pedir um cafezinho, convém
pedir o troco. Ou quem sabe oferecer uma gasolinazinha...
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