quinta-feira, 27 de novembro de 2014

30ml // Vale mais do que pesa

Sandro Biondo
Colunista de Café do Gastronomix

"Patrão, deixa um cafezinho aí!". Você já ouviu essa expressão do flanelinha, do entregador de pizza mais ousado ou - pior, muito pior - de algum funcionário público corrupto. 

A palavra, assim mesmo, no diminutivo, sempre foi e é, sinônimo de esmola, gorjeta, gratificação por algum pequeno serviço e - pior muito pior - suborno. 

Mas afinal, nesse universo tão amplo de possibilidades entre o café pequeno e a grande extorsão, quanto vale o show?

Com a inflação batendo (ou arrombando?) às portas e ameaçando se abancar nas mesas da cafeteria da esquina, a dose da bebida pode ser um bom termômetro para o custo de vida de uma cidade ou país. Funciona igual Big Mac. Só que é melhor.
Pois bem. Sou do tempo em que o café espresso regulava com a gasolina. Sim, 30 ml do meu precioso curto batia com o preço do litro do combustível no posto ao lado. E, mais velho ainda, sou do tempo em que ambos custavam menos de R$ 1. 

Tínhamos o hábito de almoçar em um shopping de Brasília, quando um dos amigos resolveu fazer greve de cafeína, porque o valor do espresso passou de R$ 1,00 para R$ 1,20. Nosso caro colega foi, sem saber, o precursor da expressão: "não são só os 20 centavos! É tudo que isso representa". 

A verdade é que, sim, dá saudade de quando uma nota de um real era o suficiente para o prazer pós-almoço. Hoje, que pena, nenhum dos dois existe. Nem a nota, nem o café a esse preço. 
Numa média geral, digamos que é quase impossível ir a uma cafeteria com menos de R$ 4,00. Isso, em Brasília... porque em São Paulo e no Rio, a nota de cinco costuma ser o desembolso mínimo. Incluindo os 10%, é bom ter umas moedinhas a mais na carteira.

Mas o budismo diz que há um lado bom em tudo. Ao menos, do tempo do um real para cá, o mercado de cafés especiais se sofisticou bastante e, claro, sofisticação custa. Imagina em São Paulo, onde até a água virou luxo... só não precisava ficar mais caro até do que a gasolina que, convenhamos, não é barata. 

Na dúvida, na próxima vez que o flanelinha pedir um cafezinho, convém pedir o troco. Ou quem sabe oferecer uma gasolinazinha...

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