quarta-feira, 25 de julho de 2012

AO PÉ DO OUVIDO//Boas novidades do passado


Por Rosualdo Rodrigues

As gravadoras brasileiras costumam pegar pérolas de seus acervos mais antigos e lançar em coletâneas selecionadas aleatoriamente, sem qualquer informação que contextualize o artista em foco. A série Super Divas, que acaba de sair pela Warner, foge disso graças ao empenho do jornalista, pesquisador e produtor Rodrigo Faour. Idealizador do projeto, Faour teve o cuidado de incluir encartes com textos assinados por ele próprio, letras das músicas e reprodução das capas dos LPs dos quais saíram as faixas escolhidas.

São 13 álbuns, cada um deles dedicado a uma cantora brasileira – na maioria, artistas que fizeram sucesso entre os anos 40 e 70, algumas ainda em atividade, caso de Eliana Pittman, Maria Alcina, Ângela Maria, Walesca e Cláudia. As outras são Maysa, Carmélia Alves, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Leny Eversong, Ademilde Fonseca, Dalva de Oliveira.

O produtor privilegiou fonogramas (são cerca de 250 nos 13 discos) ainda inéditos em CD e também, ele admite, usou como critério o gosto pessoal. Daí a ousadia de incluir Leny Eversong e Rosana Toledo, até hoje ainda pouco conhecidas. A primeira, de voz operística, fez sucesso até o fim dos anos 60 e, depois, por conta desses mistérios do mercado, sumiu de circulação. Rosana tem timbre parecido com o de Maysa, e o repertório também. Deixou a carreira na virada dos anos 50 para 60 por causa de um casamento.

Ademilde Fonseca e Dalva de Oliveira mereceram atenção especial, com um álbum duplo cada uma. Amigo pessoal de Ademilde, Faour não se conformava que a cantora, aos 90 anos, não tivesse nada registrado em CD. A inventora do choro cantado foi o ponto de partida da coleção e o volume dedicado a ela traz comentários da própria, faixa a faixa, no encarte. Pena que Ademilde morreu em março passado e não teve tempo de ver o projeto pronto.

No de Dalva de Oliveira, é Rodrigo Faour mesmo quem comenta cada música. Para ele, os dois discos resumem a melhor fase de Dalva, que, a seu ver, tinha uma discografia desigual. Fãs mais aguerridos da cantora podem concordar ou não; quem só ouviu falar dela por ocasião da minissérie da Globo (Dalva e Herivelto) terá oportunidade de entrar em contato mais estreito com uma intérprete intensa, “espécie de Piaf à brasileira (ou seria o contrário?)”, como sugere o próprio idealizador da série.


Super Divas, aliás, é um primor para quem, como eu, acredita que do passado também podemos colher novidades fresquinhas.