quarta-feira, 4 de abril de 2012

AO PÉ DO OUVIDO// Num oásis, com Bethânia

Por Rosualdo Rodrigues

Nos últimos 10 anos, Maria Bethânia vem gravando a média de um disco por ano e, considerando que alguns deles pedem para ser ouvidos cuidadosa e repetidamente até serem digeridos – são discos conceituais, de cânticos religiosos, músicas de mar e coisas do tipo – esse número acaba sendo grande demais para o ouvinte que pretende escutar as 50 mil outras boas coisas que surgem em matéria de música além de Bethânia.

Mas Oásis de Bethânia, o CD que chegou às lojas na sexta passada, mesmo sendo tão rigorosamente elaborado e intenso como tudo que ela faz, tem uma leveza que o torna mais imediatamente assimilável. E é lindo. Nele, a cantora dá um tempo na constante parceria com o maestro Jaime Alem e convida diferentes músicos para arranjar algumas das faixas. Entre eles, Djavan, Lenine, Maurício Carrilho, Hamilton de Holanda.

A utilização de instrumentos é mínima, e isso, associado a canções de letras longas — como Lágrima (Cândido das Neves), Carta de amor (Paulo César Pinheiro) e Salmo (Rafael Rabelo e Paulo César Pinheiro) —, que exigem de quem canta concentração e esforço extras, deixa em evidência o fôlego e a preocupação da intérprete com a exatidão na emissão das palavras e a expressão do sentimento ao fazê-lo.

Assim, Oásis, que é o 50º da artista, expõe com delicada peculiaridade o que todo mundo já sabe: Bethânia é uma das maiores cantoras do Brasil. Aos 65 anos, exibe admirável inquietação ao buscar novos caminhos para a música que faz (de resto, prática comum em sua trajetória). E acerta.

As parcerias com outros criadores — ela prefere chamar “criação” e não “arranjo” o trabalho desses parceiros instrumentais – dá ao disco diversidade de nuances sonoras, que começa pelo contraste entre o lirismo da primeira faixa, Lágrima, em que a voz de Bethãnia encontra o bandolim de Hamilton, e o suingue quase pop da versão de Velho Francisco (Chico Buarque), levada pelo violão de Lenine.

Um dos melhores momentos, no entanto, é criado pela própria Bethânia, em conjunto com seus músicos: Calmaria (Jota Velloso), na qual ela é acompanhada somente por dois berimbaus, com efeito dramático e arrebatador. Bem Bethânia.... Deve render um número e tanto no palco, com certeza.

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