segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
EU RECOMENDO // Descubra uma outra Índia
Por Thiago Poggio Pádua (*)
Convidado especial do Gastronomix
“Morando na Índia há seis meses, acho que a característica local que mais me assombra – entre os inumeráveis motivos que há para assombrar-se por aqui – é a enorme discrepância social.
E veja que sou do Brasil, que não é nenhuma Suécia e onde a Favela da Rocinha tem vista para o Fashion Mall. Mas na Índia tudo isso ocorre de modo muito mais extremo, em ambas as pontas! Para dar só um exemplo, em Delhi, uma favela como das que nem deve mais existir nas capitais brasileiras fica ao lado de um shopping que deixa o Fashion Mall com certo ar de frugalidade... E ninguém parece importar-se com isso.
Por essa razão, achei adequado escrever um texto que retratasse esses dois lados deste país tão diverso. E para começar com a Índia como em geral a imaginamos, nada mais apropriado do que o “Karim’s”. Le voilà:
O restaurante se espalha entre várias salas num beco, e os garçons passam com bandejas entre clientes, moradores, motociclistas e, às vezes, até alguns animais.
O Karim’s é um restaurante de cozinha mogol estabelecido em “Old Delhi”, próximo à Mesquita Jama Masjid, desde 1913. Para quem não sabe o que é mogol (eu sequer tinha ouvido essa palavra até chegar aqui), tratou-se de um povo muçulmano que reinou na Índia de 1526 até a chegada dos ingleses em 1858.
Construíram, por exemplo, o Taj Mahal. Falar de cozinha indiana, sobretudo do norte da Índia, sem falar deles é virtualmente impossível. No resto do mundo, o que normalmente chamamos de “comida indiana” é, na verdade, o resultado da influência mogol na tradição dos povos que já viviam aqui. E no Karim’s você encontra tudo aquilo: frango tandoori, biryani de cordeiro, carnes marinadas com iogurte e os mais diversos temperos, chicken tikka, dal e pães como naan, roti e chapati.
Os kebabs são ótimos, assim como o pão assado no tandoor. O prato no canto superior esquerdo, coberto num caldo de aparência meio suspeita, é um saborosíssimo cordeiro cozido num molho de amêndoas e especiarias.
A comida é uma delícia e, se estiver num grupo pequeno, você provavelmente será sentado com outros comensais à sua mesa. Se forem indianos, melhor ainda, porque dá para pedir dicas, além de poder observar como eles comem usando só a mão direita! O público inclui famílias indianas de classe média, turistas de todos os cantos do mundo e muitos grupos de amigos jovens.
Os preços são mais que acessíveis, com pratos que custam, em média, 6 reais. Cada romali, que é uma espécie de pão sírio, sai por módicos 30 centavos, e você vê os cozinheiros os amassando, abrindo e enfiando no tandoor! E tudo isso sob um paradigma de higiene que deixaria qualquer fiscal da vigilância sanitária de cabelos em pé!
O restaurante é extremamente popular: dizem que vendem 450kg de cordeiro e 1.200 de frango todos os dias. Na verdade, é tão popular que já foi até pirateado, e logo na entrada você encontra uma placa avisando que os restaurantes “Karim’s” de tais e tais lugares não são filiais suas! Que pelo menos isso fique claro em meio a toda aquela balbúrdia!
Comer no Karim’s envolve mais do que o puro sabor da comida; é também uma maneira de experimentar a Índia. A comida é ótima, mas se estiver atrás de bom serviço ou badalação, melhor nem ir! Eu só consegui comer lá na segunda vez que fui.
Na primeira, depois de passar por uma viela imunda no caminho, onde açougueiros esquartejavam uns cordeiros a machadadas, meus companheiros recém-chegados se recusaram a ficar! Eu, depois, voltei e voltei de novo, inclusive com um deles, e recomendo! (Só não me responsabilizo!)
O Karim’s fica logo ali à esquerda, incrustado no miolo de Old Delhi...
Mas, como disse logo no início do post, nem tudo na Índia é pitoresco. E para aqueles dias em que você se vê cansado de tanta confusão, há muitas alternativas sem ter que recorrer ao Indira Gandhi International Airport... O brunch de domingo do Threesixtyone, no Hotel Oberoi, em Gurgaon (cidade a cerca de 25km de Delhi onde, dizem, está o futuro da Índia), é uma delas:
De cara, já impressiona a opulência do hotel em si, pertencente a uma das mais exclusivas redes da Índia. O lago artificial, com a construção modernosa à frente e a parede de heras ao lado, forma um lindo espelho d’água, de um azul improvável.
A caminho do restaurante, o naipe das lojas no lobby dá uma dica do tipo de lugar que vem pela frente: Burberry, Bottega Veneta e Jimmy Choo são três delas. Há mesas do lado de fora, à beira do lago, que são a melhor pedida para os meses em que o tempo permite estar ao ar livre.
Durante os dois ou três meses que dura o inverno de Delhi, os aquecedores tornam possível ficar do lado de fora. No auge do verão, melhor mesmo é aproveitar o ar condicionado.
De todo modo, o ambiente é extremamente agradável, e o serviço, como é a regra em lugares muito luxuosos na Índia, mais do que atencioso. O garçom certamente não deixará sua taça esvaziar-se e fará de tudo para te agradar. No dia em que fui, estava comemorando o meu aniversário e, além de uma garrafa de vinho para levar pra casa, ganhei, também, um bolinho de presente:
O buffet do brunch é variado e tem para todos os gostos. Você escolhe se quer com bebida alcoólica ou não. Eu recomendo a primeira opção, e assim você se esbalda com taças de Veuve Cliquot ou do vinho que preferir. Pode até aproveitar para provar um vinho indiano (os indianos fazem vinho desde muitos séculos antes de Cristo!). Verdade que não é lá essas coisas, mas não chega a fazer feio.
A comida é preparada com grande delicadeza e é toda muito saborosa. São cinco estações de self service (saladas e frios, indiana, pães, continental e japonesa), além da mesa de sobremesas e de tudo o que se pode pedir à la carte. Se sentir falta de alguma comida, pergunte. Dificilmente ouvirá um não! O perigo é empolgar-se e comer demais. Tive que me conter para não pedir uma segunda cestinha de dim sum, mas não podia correr o risco de não chegar aos doces!
E como se tudo isso já não bastasse, no Threesixtyone é possível encontrar algo muito inusitado na Índia, inclusive legalmente vedado em alguns estados: carne bovina, e bem feita! Comi um “tenderloin” digno de qualquer boa churrascaria portenha! (Mas essa não fica exposta, e o garçom, ao ver seu rosto ocidental, vem oferecer-lhe à mesa!)
E se não tiver tempo ou vontade de ir até Gurgaon, o Threesixty, no Oberoi de Nova Delhi, oferece um brunch da mesma categoria, a poucos quilômetros do centro da cidade:
Repare no chapéu do cozinheiro. Se aqui os sikhs não tiram o turbante nem para pôr capacete de moto, certamente não seria para cozinhar que o tirariam!
Seja onde for, a verdade é que comer na Índia é um grande prazer, além de uma descoberta. A cozinha baseia-se nas centenas de especiarias que se usam para tudo, e cada cozinheiro, em cada casa ou restaurante, as mistura à sua moda. Identificar os variadíssimos ingredientes é um desafio para qualquer gourmet e uma verdadeira experiência para o paladar. A pimenta às vezes machuca os lábios, mas nada que uns goles de “lassi” não resolvam num minuto!
Dizem, porém, que a autêntica comida indiana está mesmo é nas ruas! De fato, são milhares os vendedores ambulantes de todo tipo de alimento, e sempre ocupadíssimos com seus fregueses. Eu, por enquanto, só me aventurei a tomar, na rua, um “chai”. E gostei. Quem sabe em breve não me anime a uma refeição completa. Prometo escrever sobre a experiência. Se sobreviver...”
(*)Thiago Poggio Pádua é diplomata de carreira, formado em Direito. Mora há seis meses na Índia. Nasceu em Goiânia, em 1979, e, antes de Nova Delhi, viveu em em Buenos Aires.
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4 comentários:
Excelente descrição para uma pessoa que, como eu, ainda não conhece a Índia. O texto me prendeu tanto que, ao terminar a leitura, estou com vontade de ir visitar esses lugares agora. Parabéns pela matéria!
Muito legal ... Parabéns
Muito legal, pude comprovar algumas dessas dicas
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