quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

AO PÉ DO OUVIDO // Arícia, que delícia!

Por Rosualdo Rodrigues

Um dos melhores discos lançados nos últimos meses chama-se Onde mora o segredo, de Arícia Mess. Cheguei a citá-lo em um post anterior, listando-o entre os melhores de 2010, mas tanto o álbum quanto a cantora merecem mais espaço aqui. É o segundo disco de Arícia, mas ela não é nenhuma novata. De Niterói, a cantora e compositora começou a aparecer na cena musical carioca nos primeiros anos da década de 1990.

Transitava no mesmo meio que músicos como Pedro Luís (o da Parede), Carlos Trilha e Rodrigo Campello. Era bem recebida no circuito alternativo de shows da cidade. Mas o primeiro disco, Cabeça coração, só viria em 2000. Pouco tempo depois, Arícia (aparentemente) saiu de cena e só recentemente reapareceu com o ótimo Onde mora o segredo, que é carregado de referências à negritude nas letras e de influências da black music -- incluindo ótimas recriações de Dengue (Leci Brandão), Black is beautiful (Marcos e Paulo Sérgio Valle) e Clariô (Péricles Cavalcanti).

O disco é dedicado a negras e índias. Não chega a ser uma militância, ela diz. “Aconteceu mais por um sentimento ligado a minha ancestralidade, às mulheres da minha família, negras e índias, a uma necessidade do meu coração de dedicar o disco a essas mulheres simples, sem história, que vêm do nada, como eu. Na verdade, às mulheres brasileiras, que somos todas índias e negras”, explica. Quanto à influência musical, Arícia acha que é inevitável: “A música negra é muito ampla, é tudo, desde o samba, o reggae, o soul. E eu, na verdade, escuto tudo isso. Gosto de ouvir Michael Jackson, Stevie Wonder, Martinho da Vila, Clementina (de Jesus)… E isso tudo me influencia”.

Resultado: música muuuito dançante. Dona de uma voz que soa poderosa sem esforço e de um suingue igualmente natural, Arícia usa recursos eletrônicos sem que esses se sobreponham aos demais instrumentos. Eles os apoiam, criando uma sonoridade que exala suor, sensual, que induz o ouvinte ao movimento. Isso, mesmo em canções intimistas, como o delicado e delicioso sambinha Gosto mais (Arícia Mess). Chega ao ápice em Porta aberta, que tem contagiante levada soul. Mas, em Onde mora o segredo, esse e outros ritmos e gêneros que costumamos abrigar sob o rótulo de black music, ou música negra, se reinventam em um som moderno e particular, inteligente e ao mesmo tempo extremamente dançante.

Um comentário:

Gustavo Simionatto disse...

Rosu fiquei curioso em escutar o CD da Arícia Mess.Excelente texto.Abraços