quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

AO PÉ DO OUVIDO // A música se esgota?

Por Rosualdo Rodrigues

Vocês já pararam para imaginar que, se todos os músicos (cantores, compositores, instrumentistas) atualmente em atividade resolvessem parar de criar e gravar, ainda assim a humanidade teria música de sobra para ouvir, como novidade, por pelo menos um século (ou mais)? Pensem no tanto de música produzida no Brasil e no mundo que a gente nem faz ideia que existe. E no meio disso, muita coisa boa.

Outra pergunta: e depois de testemunharmos a arte de todos os compositores e cantores geniais que surgiram desde que se inventou o fonógrafo, tudo que tem sido feito agora não seria dispensável, mera repetição ou reciclagem? “Tal cantora revelação é maravilhosa, parece com determinada lenda do jazz”. “Tal banda nova é genial, faz um som assim meio retrô, que todo mundo compara àquela outra dos anos 70...”

Em relação à primeira questão, eu diria que isso nunca vai acontecer, não somente por questão de mercado, mas porque seria impossível conter o ímpeto criativo de quem nasceu para fazer música. Para muitos, é uma necessidade inquestionável. Quanto à segunda, aí reside o mistério da música: quando todas as mais belas canções parecem ter sido compostas e todas as mais fantásticas vozes, ouvidas, há sempre algo que soa como novo, que tem a capacidade de encantar como se nunca tivéssemos conhecido nada parecido antes.

Um exemplo: Martha Wainwright. Eu sabia da existência dela, que é irmã do ótimo Rufus Wainwirght, que já se apresentou em São Paulo... Mas nunca a tinha ouvido cantar. Aí uma faixa de Love lies here, o álbum de David Byrne e Fatboy Slim, me chama atenção. Quem é essa que está cantando (chama-se The rose of Tocloban a música em questão)? Corro atrás de algum disco dela, quero ouvir mais, e me deparo com I know you're married but I've got feelings too, de 2008 (pô, existe há dois anos e nunca ouvi antes?! Tá vendo como há pérolas “perdidas” mundo afora?).

É o disco que está rolando enquanto escrevo este post e, portanto, não por acaso Martha Wainwright está sendo usada como exemplo. Você pode imaginar qualquer coisa que ouviu recentemente e realmente lhe arrebatou. Mas, para mim, Martha é o exemplo perfeito. Não é só porque tem uma voz afinada e sabe usá-la.

Ela tem intensidade, um encanto particular, qualqurr coisa de peculiar no modo de cantar que nem sempre é possível descrever objetivamente. Desperta sentimentos e sensações que certamente não se repetem de um para outro ouvinte, mas é difícil que alguém não se sinta tocado de alguma forma ao ouvi-la. Se lembra alguma grande cantora? Não que eu me recorde agora. (ouça So many friends, Bleeding all over you e Love is a stranger, esta última um cover do Eurythmics)

E isso é que é maravilhoso na música. Ela nunca se esgota. É uma emoção que se renova. Músicos, cantores e compositores geniais sempre surgirão e sempre serão capazes de fazer diferença, de nos tocar cada um a sua maneira. Isso é o que nos conforta diante de tanto lixo que se produz e a que se dá o nome de música (e como tem! vejam a matéria da Época sobre os hits de verão em todo o Brasil. Quadro triste...)

Um comentário:

Anônimo disse...

Sim. Ja pensei nisso varias vezes, e nao so em relacao a musica, mas tambem a literatura e outras artes. Realmente, nao sei se isso é bom ou ruim...