quarta-feira, 4 de novembro de 2009

AO PÉ DO OUVIDO // Marisa Orth, cantora

Por Rosualdo Rodrigues
De Valência (Espanha)


Marisa Orth tem uma boa voz. Mas sempre foi mais atriz que cantora. Quando esteve como vocalista da Luni e, depois,da Banda Vexame, interpretava personagens que se manifestavam por meio das músicas, invariavelmente engraçadas. Explorava a sua natural verve cômica em coisas como “Alo” (ou algo parecido), na Luni, em que só falava monossílabos numa conversa telefônica (oi, sim, não, por que, não não... ) ou na versão de “Siga seu rumo”, na Vexame (aquele clássico do Pimpinella: “fora, esqueça meu corpo, esta casa e siga seu rumo...”

Agora, alguns anos e muitas temporadas de Sai de Baixo e Toma lá da cá depois, ela grava o primeiro disco solo. Com “Romance Vol.II”. Marisa quer ser de fato cantora e não uma atriz que canta, li em algum lugar que não lembro. Mas ainda não è desta vez que ela se livra completamente do seu talento humorístico. A começar pelas poses de femme fatale da capa.

Em “Insanidade temporária”, por exemplo, Marisa volta aquela coisa over da Vexame ao cantar na voz de uma mulher que tenta explicar ao marido que matou o marido porque estava de TPM. Cômico, claro. Ou quando ela fala, na introdução de “Sofreª”, de Tim Maia. No original, o cantor dizia praticamente o mesmo texto e, podia-se achar tudo, menos engraçado. Com Marisa, a gente não sabe se ela está falando sério ou tirando onda....

Mas Marisa é cantora sim. O disco tem momentos que provam isso. A interpretação dela de “Amor”, dos Secos & Molhados é um destes. Tem também uma boa versão de Why dont you do right (standard americano gravado já por um monte de cantores, inclusive Sinead O’Connor no disco Am I not your girl). A versão quase literal é muito boa e Marisa cantando tem tudo a ver. Mesmo a citada Sofre, passada a fala do inicio, mostra uma Marisa cantora “a sério”.

Mesmo quando canta “a sèrio”, Marisa Orth faz um disco divertido. Para dizer o mínimo. Romance Vol. II tem outras qualidades, o que mostra que, se insistir nessa direção, Marisa logo logo poderá ser apontada como cantora. E não só uma cantora bissexta e engraçadinha.

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