segunda-feira, 5 de outubro de 2009

EU RECOMENDO // Bahia fora do tradicional


Por Sergio Maggio (*)
Convidado especial do Gastronomix

“Ai, Bahia…

Sou baiano de São Salvador, Cidade da Bahia, nascido na Liberdade, o bairro mais negro da América Latina. Descobri desde cedo que acarajé bom brota crocante de múltiplos tabuleiros e não só nos de Dinha, Cira e Regina (as mais famosas das baianas). O de Neinha, por exemplo, é de desmanchar na boca e fica bem no coração da Avenida Sete (antes do Colégio Mercês).

Quando Rodrigo Caetano me convidou para dar dicas sobre lugares aconchegantes e comida de primeira, pensei de imediato de falar de uma Bahia fora do tradicional roteiro divulgado pelos guias turísticos.

Adora o tempero da quituteira Dadá, mas o melhor bobó de camarão servido em Salvador é do Maria Mata Mouro (foto acima), localizado num sobrado do século XVII adjacente à Igreja da Terceira Ordem de São Francisco (Pelourinho), com paredes feitas de taipa de pilão. O ambiente combina o rústico com moderno, com disputado espaço ao ar livre, cheio de plantas e uma fonte d´água.

Para quem quer correr do azeite de dendê, há um sofisticado cardápio da cozinha internacional. Depois, ali pertinho, no Elevador Lacerda, tem uma das sorveterias mais antigas da capital baiana. Em A Cubana, experimente o sorvete de banana caramelada (que vem com nacos de doce feito no tacho). Eu sempre peço duas bolas generosas.

Um dos bairros mais boêmios e gastronômicos da cidade, o Rio Vermelho é cheio de becos e mercados com iguarias típicas da culinária baiana. Na Rua do Meio, há uma preciosidade que serve a comida típica do Recôncavo baiano, região de forte ocupação de mão-de-obra escrava. No Dona Mariquita, tem arroz de huaça, que sem modéstia, eu faço um de dar água na boca. O de lá é delicioso, mas recomendo o Arroz do Recôncavo, feito no leite de cocô com fiapos de bacalhau e servido dentro de um cocô verde. A decoração é moderna mesclando salão largo e bonecas de argila típicas da região de onde vem Caetano Veloso e Maria Bethânia.

Localizado no bairro periférico, o restaurante Paraíso Tropical (Cabula) é convite para sair do corre-corre diário e mergulhar naquele mítico estado sem pressa que caracteriza o povo de Salvador. Numa chácara, serve-se frutos do mar (foto acima) e da terra (as galinhas, sobretudo). As frutas acompanham todos os pratos. Algumas grelhadas.

Eu sou viciado na galinha de molho pardo e no suco de pitanga (que tem espuma de sorvete). Ao final, um brinde: são colocada à mesa para degustação duas dezenas de frutas da estação. No local, para passar a tarde, é comum encontrar artistas, jornalistas e turistas descolados. Vale a pena esticar o passeio e conhecer bem pertinho o terreiro de Mãe Stela, o santuário Ilê Axé Opô Afonjá (que fica em São Gonçalo).

Ai, Bahia…”

Dona Mariquita
Rua do Meio 178
Rio Vermelho – Salvador (BA)
Telefone: (71) 3334 6947.

Maria Mata Mouro
Ordem Terceira de São Francisco, 8
Pelourinho – Salvador (BA)
Telefone: (71) 3321 4244

A Cubana
Elevador Lacerda, entrada pela Praça Municipal
Cidade Alta – Salvador (BA)

Acarajé de Neinha
Tabuleiro armado antes do Colégio da Mercês
Salvador (BA)

Paraíso Tropical
Rua Edgar Loureiro, 98-B
Cabula – Salvador (BA)
Telefone: (71) 3384 7464

(*) Sérgio Maggio é jornalista, crítico de teatro do Correio Braziliense,escritor e dramaturgo. É autor do livro Conversas de Cafetinas (Arquipélago Editorial) e escreve o blog: http://cricriemcena.blogspot.com/

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