Por Cora Rónai (*)
Convidada especial do Gastronomix
“Durante a semana do Boi Bumbá, em fins de junho, o porto de Parintins é um dos lugares mais movimentados do Amazonas. A população da cidade de 70 mil habitantes dobra com os turistas que vêm ver a festa, e a maioria dos visitantes permanece hospedada nas gaiolas em que viaja. Para servir a esse mundo de gente armam-se incontáveis barraquinhas que oferecem roupas, óculos escuros e, naturalmente, comida.
O conforto é zero, higiene praticamente não existe, mas o cardápio é variado, com destaque para os pratos da culinária regional e os peixes de rio. Há pirarucus servidos de todas as maneiras, tambaquis grelhados e caldeiradas de tucunaré. O mais pedido é o bodó, um peixe assado no carvão, preto, ressecado e tão feio que chega a chamar a atenção.
Parei numa das barraquinhas para fotografar e um rapaz que estava almoçando insistiu: eu tinha que experimentar um. Não tenho medo de comida de feira, e peixe num porto movimentado é prato sempre seguro, mas aquela coisa cascuda e esturricada não me atraia nada.
Eram três da tarde e eu não comia desde cedo. Diante do peixe esquisito, porém, a fome não era opção de todo ruim.
O dono da barraquinha percebeu minha hesitação e se prontificou a descascar o bicho para mim. Topei mais para não fazer feio do que por vontade de comer o bodó; pois eis que da casca horrível saiu uma carne branca, leve e delicada...
Só faltou um limãozinho, mas também não se pode ter tudo. Servido com uma dose generosa de farinha, o bodó custou três reais e foi um excelente almoço”.
(*) Cora Ronai é articulista do jornal O Globo. Escritora e jornalista com passagens em veículos de comunicação importantes como Correio Braziliense, Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil. Pioneira do jornalismo de tecnologia, lançou em 1987, no JB, a coluna sobre computação da grande imprensa brasileira. Foi a primeira jornalista no país a criar um blog, o internETC. É conhecida também pela defesa incondicional do Rio de Janeiro, dos animais e do meio-ambiente. Filha do tradutor Paulo Rónai e da arquiteta e professora Nora Tausz Rónai, é esposa do cartunista Millor Fernandes.
Convidada especial do Gastronomix
“Durante a semana do Boi Bumbá, em fins de junho, o porto de Parintins é um dos lugares mais movimentados do Amazonas. A população da cidade de 70 mil habitantes dobra com os turistas que vêm ver a festa, e a maioria dos visitantes permanece hospedada nas gaiolas em que viaja. Para servir a esse mundo de gente armam-se incontáveis barraquinhas que oferecem roupas, óculos escuros e, naturalmente, comida.
O conforto é zero, higiene praticamente não existe, mas o cardápio é variado, com destaque para os pratos da culinária regional e os peixes de rio. Há pirarucus servidos de todas as maneiras, tambaquis grelhados e caldeiradas de tucunaré. O mais pedido é o bodó, um peixe assado no carvão, preto, ressecado e tão feio que chega a chamar a atenção.
Parei numa das barraquinhas para fotografar e um rapaz que estava almoçando insistiu: eu tinha que experimentar um. Não tenho medo de comida de feira, e peixe num porto movimentado é prato sempre seguro, mas aquela coisa cascuda e esturricada não me atraia nada.
Eram três da tarde e eu não comia desde cedo. Diante do peixe esquisito, porém, a fome não era opção de todo ruim.
O dono da barraquinha percebeu minha hesitação e se prontificou a descascar o bicho para mim. Topei mais para não fazer feio do que por vontade de comer o bodó; pois eis que da casca horrível saiu uma carne branca, leve e delicada...
Só faltou um limãozinho, mas também não se pode ter tudo. Servido com uma dose generosa de farinha, o bodó custou três reais e foi um excelente almoço”.
(*) Cora Ronai é articulista do jornal O Globo. Escritora e jornalista com passagens em veículos de comunicação importantes como Correio Braziliense, Folha de S.Paulo e Jornal do Brasil. Pioneira do jornalismo de tecnologia, lançou em 1987, no JB, a coluna sobre computação da grande imprensa brasileira. Foi a primeira jornalista no país a criar um blog, o internETC. É conhecida também pela defesa incondicional do Rio de Janeiro, dos animais e do meio-ambiente. Filha do tradutor Paulo Rónai e da arquiteta e professora Nora Tausz Rónai, é esposa do cartunista Millor Fernandes.
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