Por Rosualdo Rodrigues
Procuro evitar discursos que me façam parecer mais velho do que sou, do tipo “antigamente era melhor” ou coisa parecida. Mas que o mundo está cada vez mais doido, ah isso está. E cansativo. Há excesso de informação visual e auditiva, excesso de carros nas ruas, de compromissos sociais, de decisões a tomar (açúcar ou adoçante? débito ou crédito? à vista ou parcelado?...), de contas a pagar, de assuntos sobre os quais refletir... E cadê tempo para tudo isso? Alguém sabe dizer aonde estamos indo com tanta pressa? Se existisse um Detran intergaláctico, o planeta Terra seria multado por estar acima da velocidade permitida, podem apostar. Mal amanhece e já é noite, fechamos os olhos para dormir e o despertador já está tocando.
Por isso existe um tipo de música que considero parte essencial do kit de sobrevivência de qualquer um que não seja um iogue ou não disponha de tempo e dinheiro para se recolher a um lugar paradisíaco com frequência. Música suave. Música que foge do tuntistun eletrônico, das distorções de guitarras, do baticum percussivo... Música que desacelera, que acalma. Há quem não suporte canções demasiadamente lentas, arranjos de apenas voz e mais um ou dois instrumentos. Acha triste, deprimente... Claro, a impaciência é parte dos dias de hoje. Além disso, música alta, acelerada, eletrizada tende a nos colocar para fora, dançar, cantar junto, sair de nós mesmos. Música lenta e suave nos faz introspectivos, reflexivos, provoca reminiscências e ruminações. E dar de cara com nós mesmos pode não ser uma experiência agradável.
Pensando nisso, comecei a lembrar músicas que de tão delicadas nos tiram de órbita e nos fazem esquecer o caos lá fora. As de que lembrei, listei abaixo. Recomendo ouvir qualquer uma delas na penumbra. A mistura de clássico, jazz e música brasileira é intencional, pois acredito que a riqueza e beleza melódica dessas composições as equiparam. E quem quiser que pense em outras...
1 Air, da Suíte nº 3, de J. S. Bach
2 I Vitelloni, Nino Rota
3 Born to be blue, Chet Baker
4 Um girassol da cor do seu cabelo, João Donato e Vanessa da Mata
5 1ª Suíte Brasileira I. Uma Velha Modinha, Camerata de violões
6 Voz e suor, Nana Caymmi e César Camargo Mariano
7 Resignation, Brad Mehdal
8 Senhorinha, Mônica Salmaso
9.La valse d’Amelie (Piano version), Yann Tiersen
10. Open montage (One from the heart), Tom Waits e Crystal Gayle
Ilustração: Erick Motta
www.designup.pro.br/pro/erickmotta
terça-feira, 7 de abril de 2009
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4 comentários:
Essa temporada de chuvas aqui em Brasília fez do trânsito um caos! E quem tem me ajudado a não explodir de irritação é a Madeleine Peiroux, com seu jazzinho tranquilo.
Mas a partir de hoje, Bach, Baker e Vanessa da Mata vão me fazer companhia nessas horas intermináveis de engarrafamento.
Valeu pelas dicas, Rosu!
Texto delicado, emocionante. Adorei, Rosualdo.
Até mesmo o bom e velho rock 'n roll é capaz de nos tirar de órbita: Keane, Belle and Sebastian, Magic Numbers, Kings of Convenience... São todos ótimos pra nos desacelerar.
De fato os tempos mudaram e muito, com tanta correria não temos mais tempo pra nada, por isso nada melhor de ouvir uma boa música sempre que puder, pra relaxar não tem melhor,tô ouvindo agora Vanessa da Mata...
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