“Troca o chinelo, põe o sapato. Bolsa transpassada com o dinheiro
trocado. Mão na mão e vai!
Eram assim as manhãs de sábado com a minha avó sertaneja Francisca,
mais conhecida como “Dona Chiquinha”. Moradora de um bairro chamado
Jaguaribe, próximo ao centro da cidade, hoje com 432 anos, ou seja, bastante
antigo e bem tradicional.
Saíamos caminhando por toda a extensão da rua Alberto de Brito,
cruzávamos o sinal na frente do JUMBO, onde ela sempre me chamava a atenção e
apertava a minha mão mais forte. Pouquinho tempo dali surgiam umas montanhas de
milhos verdes, com muitas pessoas e um trabalho intenso. Descasca pra cá,
descasca pra lá, chegávamos finalmente ao Mercado Central de João Pessoa. Um
lugar grande e com muita oferta, acreditem!
Passávamos pelas banquinhas conhecidas de sempre, escolher tomates, jambos, tamarindos, seriguelas, cajás e cajaranas, pitombas, batatas doces, vagens, abobrinhas e jerimuns, galinha para comer no almoço, e finalmente os temperos, hummmm esses eram os que eu mais gostava...Alhos, boldos, erva doce, marcela, carqueja, pimentas, canelas, açafrão (que para uma paraibana a minha avó gostava e muito) tudo junto e misturado. Mas moer o cominho, era o melhor!
Sei que muitas pessoas têm um certo pânico dele, mas
regionalíssimo, ele me despertava vários interesses. O moedor manual com um
papelzinho de revista aberto para aparar a especiaria, o aroma indescritível
que só ele tem, a textura de pozinho pirilimpimpim, tudo naquela balança
vintage. Era incrível!! Enfiava a minha cara ali e depois queria
guarda-lo para sempre na minha vida.
Assim continuávamos a nossa saga na feira livre, enchendo sacola
e guardando o troco na bolsinha que ela carregava. Fumos de rolo, embolada com
cachaça, buchada na ressaca do dia anterior, as minhas mãos enfiadas nos sacos
de arroz da terra (arroz vermelho), farinhas de muitos tipos, queijos, mel de
engenho, rapaduras direto da moenda ou debulhando feijões verdes fluorescentes
lindos e vivos.
Vovó sempre me dava um estilingue, não sei porque, talvez ela visse em mim a aventura em pessoa. Devia ter uma coleção para atirar pedras na parede, porque para mim, estava certa de que em algum bichinho jamais faria. Bebia água de coco como chupava um din din (geladinho), brincava com carrinho de rolimã feitos de lata e um monte de treco treco colorido, ai meu Deus, ser criança com a avó em uma feira livre era bom demais!
Moro em Brasília há 14 anos, e não havia mais voltado ao Mercado
Central, hoje com 64 anos e dignamente adotado pela prefeitura. Me surpreendi
ao visitá-lo. Bem estruturado, organizado e bastante limpo. É um lugar para
ser feliz. Varais com córdeis, comidas típicas, caldos super nutritivos,
galinhas de capoeira, emboladas com cachaça, minhas mãos enfiadas nos
sacos de arroz da terra (arroz vermelho), farinhas e grãos maravilhosos,
queijos, rapaduras, fumos e temperos mais que especiais, inhames e
macaxeiras enraizadas, feijões verdes mágicos e uma infinidade de curiosidades
supersticiosas que só indo para ver! Felicidade reunida em paixões ali,
naquele quadradinho. Será sempre parada obrigatória daqui em diante.
Meu orgulho, minha riqueza exposta e distribuída pelo povo lutador e
talentoso da minha região colorida, seca e viva. Não deixem de conhecer!!
Mercado Central
Av. Dom Pedro II, Centro, João
Pessoa – Paraíba
De segunda a sábado, das 08:00 as
18:00
(*) Giovanna Maia é empresária, dona do gastropub Loca como tu Madre, na 306 Sul, em Brasília.
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