Colunista de Variedades do Gastronomix
Tem aquela história: quando alguém quer insinuar que uma comida é muito
rara, uma iguaria, brinca dizendo que ela foi feita por freiras descalças e
cegas de um mosteiro lá não sei de onde.
A brincadeira tem razão de ser. Dos conventos, já saíram muitas
delícias, isso porque as freiras habitualmente tinham (e algumas ainda têm) uma
rotina dividida entre a oração e a produção de comidas que elas vendiam para
manter a sua instituição.
Cada região tem os seus. Barrigas-de-Freira e fidalguinhos do Minho,
pescoços de freira e amarantinos do litoral do Douro, pitos de Santa Luzia e
toucinho do céu, de Trás-os-Montes e Alto Douro, fatias reais do Alentejo…
Certamente, se formos pesquisar, haveremos de encontrar em países dos
cinco continentes comidinhas tradicionais saídas de algum convento ou mosteiro.
O bricelet é um desses casos.
Trata-se de um um delicado biscoitinho, fino como uma hóstia, que é
tradição entre as monjas beneditinas. Ele é produzido em mosteiros dessa
irmandade em várias partes do mundo, seguindo uma receita que tem sido copiada
mas nunca igualada.
No Brasil, mais precisamente em Olinda (PE), há mais de 50 anos as
freiras do Mosteiro Nossa Senhora do Monte vendem o bricelet na lojinha da
instituição, junto com licores e outros quitutes produzidos por ela.
Embora o biscoito também possa ser encontrado em outros mosteiros, como
o de Nossa Senhora da Glória, em Uberaba (MG), em Pernambuco ele virou uma
tradição local. É usado, inclusive, em sobremesas servidas em vários
restaurantes de Recife.
Em Brasília, a “sobremesa das freiras” chegou por estes dias, no
cardápio do Tio Armênio. Ela é feita com uma camada de sorvete de creme, um
bricelet, outra camada de sorvete, outro biscoitinho, e calda de chocolate por
cima. Dos deuses…
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