quarta-feira, 28 de outubro de 2009

AO PÉ DO OUVIDO // ... E Bebel criou a própria bossa

Por Rosualdo Rodrigues

Tem uma coisa curiosa em Bebel Gilberto. Ela mora em Nova York, viaja o mundo todo – tem uma agenda que, até o fim do ano, inclui shows que vão de Lisboa a Tel Aviv – mas sua música consegue manter uma mansidão, um remanso de beira-mar, que a caracteriza fortemente. E é nessa espécie de preguiça que está a marca da bossa nova, referência obrigatória toda vez que se fala na filha de João Gilberto.

Está aí e ponto. Não dá mais para dizer que Bebel Gilberto faz bossa eletrônica. A música dela está cada vez mais com uma personalidade própria e mais acústica. A bossa está lá, mas com a mesma naturalidade que muitas outras influências e referências que ela, como moça antenada que é, assimila cada vez mais.

All in one, o disco novo – o quarto – tem, além de canções da própria Bebel, regravações de Bob Marley (Sun is shining), Stevie Wonder (The real thing), Carmen Miranda (Chica chica boom) e de João Gilberto (Bim bom). E Bebel as veste como bem entende, fazendo com que tudo se aproxime a partir de sua voz e não tenha o aspecto de uma colcha de retalhos contrastantes.

Primeiro disco de Bebel pela Verve – gravadora referência na história do jazz --, All in one é tão bom quanto os anteriores da cantora e se alinha com eles musicalmente, mas não é mera repetição. Mostra avanços, nada sutis para quem tem mais intimidade com a discografia dela.

E o disco tem uma história peculiar, já que começou a ser gestado durante umas felizes férias a dois em Port Antonio, Jamaica. Bebel diz que ela e o namorado, o engenheiro de som Didiê Cunha, iam pro estúdio, mergulhavam, fumavam... “Uma delícia”. Claro que nem tudo foi dolce far niente. Produzido entre Port Antonio, Salvador e Nova York, All in one contou com vários produtores: Carlinhos Brown, Didi Gutman (da banda nova-iorquina Brazilian Girls), o brasileiro-californiano Mario Caldato, John King (Dust Brothers), Mark Ronson (que já trabalhou com Amy Winehouse e Lily Allen, entre outros) e Tom Brenneck (do grupo The Dap-Kings, que também acompanhou Winehouse).

Nem com tantas mãos o disco deixar de uma cara só: a de Bebel Gilberto.

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